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Alemanha / História

Carlos Magno | Um mergulho na história

Carlos Magno

Após a queda do Império Romano do Ocidente, derrubado pelos germânicos que atravessaram o Reno fugindo, expulsos pelos hunos, a Europa sofreu uma real Idade das Trevas. A luz da civilização romana foi extinguida e o barbarismo predominou: o mais forte governava e a lei era a da espada.

Após séculos de obscuridade, na Alemanha surgira um homem com a ideia de mudar as coisas e a coragem para implantar a sua ideia. Após a sua vinda ocorreu uma real renascença, com o saber romano sendo retomado e a Europa sendo “recivilizada”.

Este homem era Carlos Magno (Carolus). Também conhecido como Karl der Grosse na Alemanha, Charlemagne na França e Charles the Great ou Charlemagne na Inglaterra. Sua ambição e determinação únicas inauguraram uma nova era para a Europa.

Aqui você vai conferir:

  • Quem foi Carlos Magno
  • Filhos de Carlos Magno
  • O governo de Carlos Magno
  • O início do reinado de Carlos Magno
  • A revolta da Aquitânia
  • A questão Lombarda
  • As guerras saxônicas – Parte I
  • A primeira campanha espanhola
  • As guerras saxônicas – Parte II
  • As guerras saxônicas – Parte III
  • A emboscada em Roncesvalles
  • Unificação da Germânia
  • Guerras Avaras – Parte I
  • Guerras Avaras – Parte II
  • Pós-guerra e apogeu Carolíngio

Quem foi Carlos Magno

Nascido em 742 (o que o faria um bastardo, pois os seus pais, Pepino o Baixo e Bertha se casariam em 44) ou em 47, dependendo da fonte histórica. Carlos como um dos filhos do fundador da dinastia Carolíngia, que acabara de se separar da anterior dinastia merovíngia. Seu nome era como o do avô (Carlos Martel), o pai de Pepino o Baixo.

Apenas dois dos seus cinco irmãos sobreviveram à infância, Carlomano e Giselda, mas ele era o filho mais velho de Pepino, o fazendo o herdeiro do Império Franco, que abrangia o leste e norte da França e o oeste da Alemanha, assim como os Países Baixos.

O local do seu nascimento ainda é discutido, mas quase certamente ele nasceu na região do rio Reno, o coração das terras francas. Aachen, capital franca, no oeste da moderna Alemanha, e Liège, na moderna Bélgica, são locais sugeridos. Mas sobre o seu nascimento e infância quase não há traços históricos.

O rei dos francos tinha cerca de 1,92 metros de altura, era robusto e forte, e é frequentemente retratado como sendo um homem de cabelos loiros-acinzentados lisos, que ele usava na altura dos ombros, e barba, que ele usou bem-aparada na juventude e deixou crescer quando os seus cabelos se tornaram grisalhos. A cor dos seus olhos provavelmente era clara, eles provavelmente cinzas, azuis ou verdes.

Conta-se que ele caçava com a esposa e os filhos, e às vezes até os levava consigo em campanhas militares, com alguns dos seus filhos terem sido gerados e até nascidos em acampamentos. Mas ele também era orgulhoso e propenso a surtos de raiva, que às vezes poderia escalar para uma fúria assassina no qual ele perdia todo e qualquer auto-controle.

Em geral, ele tentava controlar os seus soldados ao conquistar uma região para evitar atrocidades e destruição além do necessário, mas também provou ser capaz de realizar atrocidades durante os seus surtos de fúria, das quais ele frequentemente se arrependia depois.

A religiosidade e piedade também era um dos seus traços mais marcantes, pois Carlos Magno raramente perdia uma missa se pudesse evitar, tendo um respeito profundo pela Igreja e a apoiando em várias ocasiões e sendo um amigo do papa Adriano I.

Diz-se também que ele requisitava que alguém lesse para ele trechos de “A Cidade de Deus”, de Santo Agostinho, durante o almoço. Ele também se preocupava bastante com educação, tendo juntado uma grande livraria no seu palácio em Aachen e estudado vários assuntos diferentes: filosofia, teologia, história, políticas, artes, direito, astronomia, retórica, e garantiu que seus filhos e filhas tivessem uma educação meticulosa.

Tal fascínio por conhecimento, que provou ser um traço essencial para o seu governo quando mais tarde, durante a Renascença Carolíngia, ele criou um sistema de escolas públicas, provou ser um traço importante, que pode ter sido originário de sua infância, na qual ele recebeu pouca educação que não fosse de caráter bélico, sendo alfabetizado com grande dificuldade já adulto.

Dessa infância, ele tirou um grande talento militar e um gosto por uma vida agitada e espartana, que também provaria ser essencial: sua carreira militar começou ainda na adolescência, como um dos generais de seu pai, e em suas várias campanhas militares ele marchava junto aos soldados, comandava pessoalmente o exército e às vezes até lutava pessoalmente ao lado de seus homens.

Carlos Magno geralmente é descrito como um homem simples e de maneiras um tanto rústicas, que lhe renderiam bastante popularidade com os seus súditos, não sendo muito chegado às pompas da corte e gostando de comer com os seus subordinados, caçar e raramente conseguindo ficar quieto, estando sempre se exercitando de algum modo ou estudando quando não estava em campanha.

Também é relatado que ele foi muito chegado à sua segunda esposa Hildegard: apesar de eles terem se casado quando ele tinha 30 e ela 13, as personalidades de ambos eram bastante compatíveis, e o casamento foi um sucesso (ao contrário de todos os seus outros), com ambos tendo vários filhos, com os quais ele também foi bem chegado.

Carlos Magno
Carlos Magno com o Papa Adriano

Filhos de Carlos Magno

Durante o seu longo casamento com Hildegard da Suábia, Carlos Magno teve vários filhos e filhas, e fez questão de que eles tivessem a oportunidade de terem uma educação formal que ele nunca teve: suas filhas aprenderam as “artes femininas” (provavelmente etiqueta, diplomacia, etç.), os seus filhos aprenderam equitação, arqueria e outras atividades ao ar livre, geralmente de cunho bélico, e toda a sua prole aprendeu várias artes e ciências.

Parte do poder também foi delegado aos seus filhos mais velhos: o seu filho legítimo mais velho, Carlomano, foi coroado em 774 rei da Lombardia, sendo renomeado Pepino. Ao seu filho Luis, mais tarde conhecido como o Pio, ele deu o reino da Aquitânia, e até ao seu primogênito e bastardo (sendo filho do rei com Himltrude, uma nobre franca com quem Carlos Magno tinha um caso antes de se casar com Hildegard) Pepino o Corcunda, ele deu terras.

Apesar de os seus filhos terem poder regional, o poder central sempre ficava nas mãos do imperador, e ele não tolerava revolta: quando Pepino o Corcunda se revoltou em 792 e foi derrotado, ele escapou da execução por pouco, sendo forçado a virar monge no monastério de Prüm.

Apesar dele ser um bastardo e de Carlos Magno ser casado com outra mulher, ele sempre o deixou frequentar a corte, mas traição foi demais. Além disso, o imperador franco parecia se preocupar bastante com a questão da sucessão e ter feito de tudo para facilitá-la, como por exemplo não deixar que as suas filhas se casassem para evitar a criação de ramos secundários da Casa Karling.

Carlos Magno
Carlos Magno

Apesar disso, ele permitiu que elas tivessem amantes e até vivessem com eles como se fossem maridos. Na prática, era um casamento em tudo menos no nome, com Carlos Magno até tendo contato e uma relação boa com os seus netos por suas filhas, mas os filhos de tal união seriam bastardos e logo não poderiam revindicar o trono algum dia.

Tal trato escandalizou a Igreja quase tanto quanto o seu filho bastardo, mas considerando as outras virtudes do rei dos francos, ela não chegou a causar-lhe problemas.

Seu governo:

Durante o seu governo, Carlos Magno demonstrou ter duas prioridades: expansão e infra-estrutura. Em suas várias campanhas, ele expandiu o seu domínio e em alguns casos também o cristianismo, em sua tentativa de reformar o antigo Império Romano, mas os seus esforços em infra-estrutura foram tão importantes quanto para a significância histórica do seu governo.

Diversas estradas foram construídas durante o seu reinado, ligando as várias cidades do seu império, e até mesmo um canal ligando o Reno ao Danúbio começou a ser construído (embora nunca tenha sido terminado).

Ainda mais significante que isso foi o sistema de educação criado, com as igrejas e mosteiros abrindo escolas em suas dependências nas quais os filhos de qualquer pessoa poderia ser alfabetizado e obter ensino básico. Embora tais escolas aceitassem doações, o ensino era gratuito, de forma que até mesmo os plebeus tinham acesso à educação.

Tal estrutura de educação não se fincaria em larga escala na Idade Média como um todo, mas ainda continuaria a existir em escala menor posteriormente, possivelmente inspirando as escolas católicas modernas.

Outro marco importante do seu reinado foi a tentativa de uniformização da moeda usada dentro dos territórios controlados pelos francos, para facilitar o comércio.

O início do reinado

Durante muito tempo, os francos viveram numa espécie de democracia indireta: os antigos prefeitos do palácio eram teoricamente eleitos pelo povo, e também o foram os primeiros reis (o pai de Carlos Magno, Pepino, o Baixo, foi elevado de Prefeito do Palácio à rei pelo Papa), numa tradição que se desenvolveu na monarquia eletiva do Sacro Império Romano Germânico posterior.

Uma assembléia dos homens de importância do reino era tida, e teoricamente eles elegeriam o rei. Por outro lado, tanto Pepino quanto os seus sucessores eram considerados donos de seu posto por herança também: nesse peculiar sistema misto, a hereditariedade tinha um peso grande, assim como o apoio papal, mas era a assembléia que legitimava o posto real.

Outra peculiaridade do sistema de governo franco era que tanto no caso de reis quanto dos Prefeitos do Palácio anteriores havia precedentes para duas pessoas ocupando o mesmo cargo ao mesmo tempo, como os praetores romanos, dividindo o poder.

Assim havia sido com Pepino o Baixo e seu irmão, Carlomano o Sábio, antes de Pepino ser indicado rei (coisa que causara uma guerra civil após Pepino ascender ao trono e declarar os seus filhos Karl (Carlos Magno) e Carlomano como os seus herdeiros, excluindo o filho de seu irmão, Drogo), e assim viria a ser com os herdeiros de Pepino

Pois Pepino, o Baixo, viria a morrer em 24 de setembro de 768 em Saint-Denis, Paris , e os seus filhos Carlos Magno e Carlomano viriam a assumir o reino como co-reis: não como reis de reinos diferentes, mas como dois reis governando o mesmo reino, apesar de Carlos Magno ter como sua jurisdição as províncias costeiras.

Aquitânia, o norte da Austrásia (terra natal dos francos, no curso médio e baixo do Reno), e a Neustria (atual Normandia), enquanto Carlomano receberia a Burgúndia, o sul da Austrásia, a Suábia, Provença, o leste da Aquitânia, a Marca Italiana e a Septimania (ou Marca Gótica, atual região de Marselha).

Carlos Magno teria cerca de 26 anos (assumindo o nascimento em 42), já veterano de algumas campanhas que fizera com o seu pai e um comandante habilidoso, e o seu irmão e co-rei Carlomano 17. Agora, eles teriam que enfrentar o primeiro desafio dos seus reinados: a rebelião da Aquitânia, o mais conturbado dos estados vassalos do Império Franco, cujos líderes sempre se rebelavam quando sentiam a mínima fraqueza dos seus suseranos.

A revolta da Aquitânia

Nos vales do trecho da cordilheira dos Pirineus que separavam a Ibéria da Gália, por muito tempo viveram os Eskauldunak, também chamados em forma latinizada de Vascões, Gascões ou Bascos.

Vivendo em ambos os lados da montanha, no Ducado da Aquitânia no lado leste e no Ducado da Vascônia, no lado leste (predecessor do Reino de Navarra), eles nunca foram completamente subjugados pelos romanos e foram amplamente valorizados pelo seu espírito guerreiro.

Nos tempos de Carlos Martel, avô de Carlos Magno, quando os saracenos conquistaram quase toda a Ibéria e marcharam para o leste, Odo, rei da Aquitânia, que anexara a Vascônia pela diplomacia desde 660, foi forçado à pedir por ajuda aos francos, os seus inimigos tradicionais, e teve que jurar vassalagem à Carlos Martel após o mesmo derrotar os invasores saracenos na Batalha de Tolouse, mas os gascões nunca foram bons vassalos.

O pai de Carlos Magno teve que lidar com uma revolta deles, liderados por Hunald, um aliado da Lombardia, que começara como co-rei junto ao seu irmão Hatto, que ele caçou, depôs e cegou por ser leal aos francos.

Pouco após tal atrocidade, Hunald teve uma crise de consciência e virou monge, mas o seu filho Waifer continuou a revolta, sob o argumento de que qualquer juramento feito à Carlos Martel morrera com ele, até ser caçado e morto pelo jovem Carlos Magno, ainda príncipe. A revolta se acalmara um pouco apenas em 768, tendo durado 10 anos, um ano antes de Carlos Magno e Carlomano assumirem.

Com a morte de Pepino pouco tempo depois do fim da revolta, os gascões se rebelaram de novo sob a liderança de outro Hunald, e o primeiro desafio dos novos reis dos francos era lidar com essa revolta: no momento decisivo, os bavários, sob a dinastia Angilofing, de lealdade questionável, desertaram Pepino, e ele não pudera acabar de vez com a revolta.

Mas desde a morte de Pepino, Carlomano brigava com o seu irmão, com a paz sendo mantida apenas pela intervenção da mãe de ambos, Bertha, e ele se recusou a se juntar á Carlos Magno em sua nova campanha na Aquitânia.Então, apesar de estar sozinho, Carlos Magno reuniu e liderou um exército para a Aquitânia, acampando em Fronsac para atacar Bordeaux: se antes Hunald saqueara tão ao norte quanto Angouleme, agora os francos ditavam os termos.

Hunald foi forçado a fugir para a corte de Lupus II, duque da Gasconha, que ficou aterrorizado com o que o jovem rei dos francos faria com ele se o capturasse, e acabou por decidir entregar Hunald a Carlos Magno. Cada vez mais, a estrela do filho mais velho de Pepino brilhava, a ponto de ofuscar a do seu co-rei, Carlomano, que se tornava cada vez mais hostil.

A questão Lombarda

Ao retornar da campanha na Aquitânia, Carlos Magno assinou um tratado com o duque Tassílio II da Bavária, de lealdade sempre duvidosa, e se casou com a filha do rei da Lombardia, Desiderata, possivelmente procurando por aliados para o caso de Carlomano decidir o dar uma facada nas costas.E muitas coisas indicavam que isso poderia acontecer.

Além da hostilidade pendente e dos eventos passados, Carlomano estava se aproximando cada vez mais da Lombardia, inimigo tradicional do papado. O casamento foi possivelmente para equilibrar o jogo, neutralizando a Lombardia.

Mas se tal foi a intenção, as coisas não correram bem: um ano depois do casamento, Carlos Magno repudiou Desiderata e pediu o divórcio, logo após se casando com a princesa suábia de 13 anos, Hildegard, com quem ele teria um casamento longo e feliz com vários filhos, enfurecendo o pai de Desiderata, Desiderius.

Suspeita-se que Carlomano, após tais eventos, conspirava com a Lombardia contra o seu irmão, mas pouco tempo depois do tal divórcio o próprio Carlomano morreu de causas desconhecidas, em 771, privando Desiderius de seu aliado.

Mas ainda havia mais a se temer: a viúva de Carlomano Geberga fugira para a corte lombarda com os filhos, possivelmente temendo que ela fosse posta num mosteiro e os seus filhos criados sob guarda, e com o apoio de Desiderius, reinvidicou o lugar do falecido Carlomano para o seu filho.

E ainda outro fator contribuiu para jogar os francos contra os lombardos: com a subida de Adriano I ao papado em 772, o Vaticano cobrou a Desiderius a sua promessa de que com a subida do próximo papa ao poder, ele devolveria algumas cidades próximas a Ravena que os lombardos haviam tomado dos bizantinos, então soberanos do Papado e ainda com terras na Itália.

Desiderius atacou as terras bizantinas, tomando as terras remanescentes da Pentápolis de Ravena (formada por Ravena e 4 outras cidades próximas) e sitiando a própria Roma.

O Papa mandou uma delegação ao novo rei dos francos pedindo ajuda, e que ele socorresse o papado como o seu pai fizera antes dele.Mas Desiderius também mandou uma embaixada negando todas as acusações, de forma que uma reunião diplomática com Carlos Magno de intermediador foi organizada em Diedenhofen (moderna Thionville, na França), na Austrásia, terra natal dos francos.

Após ouvir ambos os lados, o rei dos francos decidiu dar razão ao Papa, mas Desiderius jurou que jamais obedeceria às demandas papais, e se retirou furioso para voltar ao cerco. E então a guerra entre o Império Franco e a Lombardia começou, e enquanto Desiderius sitiava Roma Carlos Magno reunia um exército no sopé norte dos Alpes para ir ao seu socorro.

Em 773 o exército carolíngio atravessou os Alpes sob a liderança de Carlos Magno e seu tio Bernardo e caíram sobre a Itália como um furacão, empurrando os lombardos até Pavia e sitiando a cidade, tomando uma breve pausa no sítio para atacar um grande destacamento do exército lombardo que se reunia em Verona.

Lá Carlos Magno se defrontou com Adelchis, filho de Desiderius, derrotando o seu exército em batalha, o forçando a fugir pelo Adriático até Constantinopla. aonde ele ficaria até o final dos seus dias implorando pela ajuda do basileu Constantino V para retomar o seu reino, sendo, óbvio, ignorado, em parte porquê o Império do Oriente estava então em guerra com os búlgaros do norte.

O cerco de Pavia se arrastou por meses, drenando a força tanto dos carolíngios quanto dos lombardos.Em 774, com o cerco ainda de pé, o rei dos francos visitou Roma e se reuniu com o Papa Adriano, confirmando as terras que o seu pai Pepino o dara (que incluíam Veneza, Córsega, Emilia e a Toscana), e recebeu do Papa o título de patrício de Roma.

Voltando para o cerco, ele ofereceu aos lombardos desmoralizados as suas vidas em troca de rendição total, oferta a qual eles prontamente aceitaram.

O exército lombardo debandou, os seus lordes juraram lealdade à Carlos Magno, e até mesmo Desiderius foi poupado: o pretenso conquistador de Roma e do Papado ironicamente terminou os seus dias como um monge na abadia de Corbie. Tomando a coroa de ferro da Lombardia, Carlos Magno foi coroado como rei dos Lombardos e suserano da Itália (apesar de ele só ter domínio efetivo sobre o seu norte).

Mas esse não foi o fim dos seus problemas: o duque Arechis II de Benevento se recusou a capitular e se declarou independente, se mantendo assim até ser sitiado em 787, apenas para outra revolta estourar após a sua morte em 792. Houve ainda mais turbulência na Itália em 776, quando os duques Hildebrando de Spoleto e Hrodgauld de Friuli se rebelaram reivindicando o trono para Adelchis.

Carlos Magno estava então em campanha contra os inimigos tradicionais dos francos, os saxões pagãos que viviam além do Reno, e voltou o mais rápido possível para a Itália para esmagar a rebelião, derrotando o exército de Hrodgauld e o matando em batalha e conseguindo a submissão de Spoleto pela diplomacia. Apesar das revoltas ocasionais, deste ponto em diante os francos (e depois os seus sucessores alemães) seriam o poder dominante no norte da Itália.

As guerras saxônicas – Parte I

Por séculos e séculos os francos combateram os saxões, seus inimigos tradicionais: apesar de ambas as etnias serem subdivisões alemãs, os francos eram católicos e mais avançados culturalmente e tecnologicamente (em ambos os casos largamente por influência romana), enquanto os saxões ainda eram um povo mais primitivo e seguiam o paganismo germânico, nisso sendo bem similares aos escandinavos e essencialmente vikings terrestres.

Com a sua cultura guerreira, os saxões frequentemente cruzavam o Reno para saquear a Francônia.

Essas tribos viviam no extremo norte da Alemanha, logo ao sul da Dinamarca, e eram divididas em 4 reinos: Westfallen, logo ao leste da fronteira franca, Eastfallen, o reino mais oriental, que fazia fronteira com aonde hoje é a região do Brandenburgo, Engria, que ficava entre ambos e fazia fronteira com o coração da Alemanha, que os francos controlavam, e o mais ao norte de todos, fazendo fronteira com a Dinamarca e os outros 3 reinos, o reino da Nordalbingia.

Com a subida do decisivo Carlos Magno ao trono dos francos, o equilíbrio de poder mudara e os francos começaram a finalmente submeter os saxões: em 773, o rei dos francos, sempre em campanha, adentrou na Saxônia à frente da sua scara (palavra franca para tropa de elite, guardas-costas, provavelmente era composta de cavaleiros francos) com um exército e atacou o reino da Engria, derrubando um pilar Irminsul (espécie de grande tronco de madeira, um templo do paganismo germânico).

A campanha não pode prosseguir por causa da ameaça lombarda ao sul, mas dois anos depois ele retornou, conquistando o reino de Westfallen e tomando de assalto o forte de Sigiburg, e prosseguiu de novo para a Engria, dessa vez anexando o reino, e prosseguiu ainda mais para o leste, mais para o leste do que jamais fora antes, penetrando em Eastfallen e derrotando o seu rei Hessi em batalha, após a qual ele se converteu ao cristianismo.

No caminho de volta para casa, Carlos Magno deixara dois grandes fortes saxões com guarnições francas: Erisburg, na Engria, perto de onde ficava o pilar Irminsul que ele destruíra dois anos antes, e em Sigiburg, e os francos controlavam 3 dos 4 reinos saxões.

Mas os saxões eram, nas palavras de Alcuíno de York, intelectual ,amigo e cortesão do rei dos francos, “uma raça orgulhosa e rebelde, que não deve ser submetida pela força”: enquanto Carlos Magno estava na Itália em 776 lidando com a revolta dos duques de Friuli e Spoleto, os saxões da Engria se rebelaram sob a liderança de Widukind, um nobre westfálio com uma esposa dinamarquesa, e queimaram a fortaleza de Erisburg.

A queima de fortaleza era parte da cultura germânica, e era feita pelo cerco de um forte de madeira por completo (às vezes sendo feita de surpresa durante a noite), no qual era ateado fogo, e qualquer um que tentasse sair era imediatamente abatido.

Mas a revolta na Itália caíra logo e com uma velocidade impressionante, o rei dos francos já voltara para a Saxônia e suprimira a revolta, embora Widukind tenha conseguido escapar para junto da família de sua esposa. Nessa campanha também foi construído um acampamento fortificado do zero, que ficou conhecido como Karlstadt (Cidade de Carlos). Em 77, foi convocada uma dieta em Paederborn para integrar os 3 reinos conquistados completamente ao reino franco. Nesse tempo, muitos saxões se converteram ao cristianismo, e o imperador participou pessoalmente de muitos batismos em massa.

A primeira campanha espanhola

Segundo o historiador árabe Ibn al-Athir, ainda na Dieta de Paederborn em 77, no final da sua campanha contra os saxões, o rei dos francos recebeu convidados exóticos e inesperados: representantes dos governantes mouros de Saragoça, Girona, Barcelona e Huesca.Os seus mestres, lordes e governantes das respectivas cidades, haviam se rebelado contra o Emir Abd ar-Rahman I Umayyd de Córdoba, e agora estavam numa situação desesperadora, encurralados pelo seu velho senhor, e prometiam prestar vassalagem a Carlos Magno se ele os defendesse.

Após passar meses refletindo sobre a ideia, o rei dos francos aceitou a proposta e no ano seguinte atravessou os Pirineus Ocidentais com as tropas nêustrias (a Neustria compreendia quase toda a França moderna) enquanto os francos, lombardos e burgúndios atravessavam os Pirineus Orientais, se encontrando em Saragoça, aonde ele recebeu um juramento de lealdade dos Walis (governadores) Suleyman al-Arabi de Barcelona e Girona e Kasmin ibn Yusuf (presumivelmente Wali de Huesca), com tropas mouras se juntando ao seu exército.

Até então ele havia enfrentado pouca resistência: os bascos estavam quietos desde que Carlos Magnoderrotara a revolta de Waifer na sua primeira campanha como rei, e o Duque Lupus da Vascônia, que traíra o seu velho aliado Waifer o entregando para o rei dos francos, fora deposto em favor de um certo Seguin no ano da campanha.

Mas em Saragoça as coisas mudaram: suspeitando do Wali de Saragoça, o Emir mandara o seu melhor general, Thalaba ibn Obeid, para a cidade, mas após uma série de intrigas, o Wali Husayn conseguira o aprisionar, e, bêbado de poder, se recusou a sacrificar a sua recém-achada independência: ele se recusara a fazer um juramento de lealdade a Carlos Magno, alegando que jamais prometera isto, e fechara os portões para ele.

Tentando apaziguar o seu antigo aliado, Husayn o deu o General Thalaba e um grande tributo em ouro, mas Carlos Magno não estava satisfeito, e ordenou a prisão do co-conspirador Suleyman e tentou tomar Saragoça, desistindo após um mês de cerco. Sem esperanças e com medo de que os bascos se revoltassem de novo, o prendendo na Espanha, o rei dos francos decidira voltar para casa, tendo que enfrentar uma longa marcha até os Pirineus.

Tal marcha foi quase tão desastrosa quanto o cerco: após um ataque surpresa da parte dos parentes de Suleyman al-Arabi, o prisioneiro fora libertado e voltara para conspirar com o Wali Husayn contra o Emir de Córdoba, e ao adentrar nas terras bascas, os medos do rei franco de uma revolta pareceram se concretizar: perto de Pamplona, o seu exército fora atacado pelos bascos.

Apesar de ter conseguido repelir o ataque, Carlos Magno estava ficando cada vez mais ansioso, e após parar para descansar uma noite em Pamplona, ordenou que as muralhas da cidade fossem derrubadas, para que ela não pudesse ser usada como base numa revolta gascã. Com o pior aparentemente no passado, os sobreviventes do exército franco-lombardo tentaram atravessar os Pirineus.

A emboscada em Roncesvalles

Após a desastrosa campanha espanhola de 78, o exército franco e os seus auxiliares franceses, lombardos e mouros recuaram pelas passagens dos Pirineus, escolhendo a rota mais direta para sair da Espanha: uma passagem no coração dos Pirineus Orientais, ao leste de Pamplona, perto da vila de Roncesvalles.

O exército teria que marchar através de uma estreita passagem na montanha, e temendo uma emboscada, o rei Carlos Magno dividira as suas tropas em três divisões: o centro, comandado por ele mesmo, a vanguarda, comandada por uma figura desconhecida, e a retaguarda, comandada pelo Conde Hruodland/Rolando, da Marcha Bretã, na Gália.

Durante a travessia, o exército franco sofreu o seu maior revés até então: escaramuceiros gascões, similares aos almugavares posteriores e liderados pelo deposto Duque Lupus, estavam de tocaia na passagem, e na noite do 15 de agosto de 778, um sábado, caíram sobre o exército franco no que ficou conhecido como a Batalha da Passagem de Roncesvalles.

Apesar de os francos estarem em maior número e com melhores armaduras e armas, as suas táticas e equipamento pesado eram mal-adequados para o terreno irregular da passagem, de forma que os francos eram alvo fácil para a ágil infantaria gascã, que atacara a retaguarda com força.

Apesar da resistência feroz de Rolando, que talvez tenha impedido um revés maior, a retaguarda franca foi esmagada, o comboio de bagagens saqueado, e vários lordes francos, incluindo o próprio Rolando, mortos, com os gascões recuando antes que reforços do centro pudessem acudir a retaguarda.Apesar do desastre, a resistência feroz de Rolando inspirou bastante a literatura francesa dos séculos seguintes, o que resultou na criação da famosa Chanson du Rolland.

As guerras saxônicas – Parte II

Após a emboscada aterrorizante na passagem elevada sobre os Pirineus, o exército carolíngio conseguiu finalmente atravessar as montanhas e retornar para a Aquitânia, mas isso serviu de pouco consolo: o rei já estava devastado com todas as baixas que sofrera, tendo perdido toda a retaguarda do seu exército e vários nobres importantes.

Ele ficou ainda mais devastado com duas notícias devastadoras: o seu filho Lothario, irmão gêmeo de Luís, havia morrido ainda bebê, e Widukind havia retornado da Dinamarca, incitando outra revolta saxã que se espalhou como fogo, destruindo as fortificações francas estabelecidas anteriormente e levando uma onda de saques que chegou até a Westfália e a fronteira da Austrásia, aonde vários soldados francos foram pegos de surpresa e mortos.

Alguns nobres sugeriram marchar imediatamente sobre a Saxônia e esmagar a rebelião outra vez, mas Carlos Magno aparentemente entrou em depressão com tantas perdas e decidiu permanecer na Francia e voltar para a sua família, deixando que os seus soldados fizessem o mesmo.

Ao longo do ano seguinte, ele tentaria lidar com o seu luto enquanto juntava recursos e tropas para ainda outra vez marchar para o norte e para o leste contra os saxões, numa guerra intermitente que já se arrastava por quase uma década: o que começara como uma estratégia para por fim aos saques saxões e os converter estava provando ser um morticínio ainda maior.

As guerras saxônicas – Parte III

No ano seguinte à mal-fadada campanha ibérica, o rei dos francos atacou novamente a Saxônia e submeteu os 3 reinos rebeldes numa rápida campanha relâmpago, similar à blitzkrieg posterior, mas novamente falhou em capturar Widukind, que desaparecera como fumaça. Numa dieta em Lippe em 780, a terra foi dividida em vários distritos missionários e o próprio rei participou de vários batismos em massa de tanto nobres quanto aldeões.

Retornando à Itália pouco tempo depois, pela primeira vez os saxões não se rebelaram imediatamente.

Mas tudo mudaria dois anos depois.Publicando um novo conjunto de leis, o Capitulatio de partibus Saxoniae (Ordenanças sobre os saxões), a lei franca previu punições para qualquer um que quebrasse a paz do rei, entre outros crimes, e também proibiu o paganismo na Saxônia.A penalidade para a maioria dos itens era a morte.

Talvez antes o rei dos francos tivesse hesitado em tomar medidas tão drásticas, mas o homem que voltara da Ibéria 4 anos atrás não era o mesmo homem que atravessou os Pirineus para o Oeste: a série de tragédias deixara Carlos Magno profundamente marcado emocionalmente – a traição do wali de Saragoça, a morte de vários dos seus companheiros na emboscada sobre a Passagem de Roncesvalles, a morte do seu filho Lothario, com apenas um ano – o tempo ainda não havia curado tais coisas, e o homem que voltara para Aachen em 78 era muito mais frio e vingativo que o homem que saíra de lá um ano antes.

Previsivelmente, outra revolta ocorreu, com Widukind novamente na liderança.Determinado a esmagar os saxões de uma vez por todas e com uma frieza antes não vista e uma vontade mais férrea do que nunca, Carlos Magno atravessou a bacia do Reno “perto de onde o Aller flui para o Weser” e estabeleceu acampamento num local próximo, em Werden (Verdun), novamente adentrando na gélida vastidão do norte da Germania.

A primeira batalha contra os saxões ocorreu pouco tempo depois: os francos encontraram a parede de escudos saxã os aguardando sobre o Monte Suntel. Desobedecendo as ordens reais, vários cavaleiros atacaram colina acima montados, e o resultado foi uma derrota humilhante, se não definitiva, para os francos. Nenhum dos exércitos quebrara, mas vários ataques francos foram repelidos com sucesso pelos saxões, e a maior parte dos mortos eram francos.

Após a batalha, os francos recuaram para o seu acampamento em Werden.A disposição do rei ficava cada vez mais negra, com conselheiros importantes e companheiros seus tendo morrido na encosta do Monte Suntel, e ele ordenou que todos os nobres saxões fossem trazidos à sua presença e que delatassem quem havia participado da revolta.

De início, os saxões se recusaram a falar, mas quando Carlos Magno se enfureceu e ameaçou matá-los todos se os culpados não fossem delatados, eles cederam os nomes de 4.500 nobres, entre grandes senhores, latifundiários e soldados. Num ato possivelmente inspirado no massacre dos amalequitas pelo rei Davi, Carlos Magno ordenou que todos eles fossem decapitados no mesmo dia, com o Aller correndo vermelho com sangue.

Mas apesar de o Massacre de Verdun, como ele ficou conhecido, parecer prenunciar mais derramamento de sangue, algo inesperado ocorreu: Widukind, um autêntico patriota, para poupar o seu povo de mais morticínio, aceitou depor as armas e se converter ao cristianismo. Tal notícia pareceu operar uma mudança imensa no rei dos francos: o seu humor, tão negro nos últimos anos, começou a melhorar, e num surto de felicidade, ele se ofereceu para ser o padrinho de batismo de Widukind, o cobrindo de presentes.

Anos mais tarde, já emocionalmente estável de novo, Carlos Magno viria a se arrepender das atrocidades cometidas contra os saxões nessa campanha e das leis draconianas de 82, admitindo que não deveria ter tentado forçar a conversão dos saxões (talvez o seu amigo e mentor dos seus filhos Alcuíno tenha tido algo a ver com isso: o citando sobre o Massacre de Verdun -“Senhor, esteja avisado de que os saxões são uma raça orgulhosa e rebelde, que não deve ser coagida pela força”), em particular das execuções em Verdun, que formaram uma mancha negra na sua reputação.

Os registros históricos sobre Widukind após o seu batismo são ambíguos: muitos sugerem que ele pode ter sido mantido em prisão domiciliar num monastério, uma tática que Carlos Magno empregava com frequência com governantes depostos, e a Abadia de Reichenau é um dos locais sugeridos para o seu confinamento. Por outro lado, a biografia de São Ludger “Vita Liudgeri” menciona Widukind como, pasmem, um dos companheiros de Carlos Magno em sua campanha contra os Veleti, uma tribo eslava que ocupara o noroeste da Germania.

Pode-se presumir que o notório líder saxão e símbolo do nacionalismo alemão morreu de velhice numa fazenda saxã sob julgo franco, sem se meter nas revoltas posteriores e mantendo um papel no governo da Saxônia.

Unificação da Germânia

Após a submissão dos saxões em 785, o Império Franco teve alguns anos de paz. Isso, porém, acabou três anos depois: um povo de nômades guerreiros vindos do Leste surgira nas fronteiras, e saqueara e tomara a Bavária e Friuli, nas proximidades dos Alpes. Tendo chegado na Europa um tempo antes e se estabelecido na moderna Hungria, esse povo era quase certamente de origem altaica e aparentados com os turcos e mongóis.

Einhardt os chamou de hunos, mas eles não pareciam ser exatamente o mesmo povo que devastara a Europa 300 anos atrás. Os cronistas modernos os chamam de avaros.

Porém, o rei estava ocupado, de novo em campanha, preparando-se para lutar em outros fronts. Um ano após a invasão das terras alpinas, Carlos Magno liderou um exército para submeter os obotritas, também chamados de Veletis, e de Wiltzes e Wends pelos germânicos, um povo eslavo que se estabelecera no nordeste da Germania quando os nativos se deslocaram para o Oeste para ocupar território romano no final da Antiguidade.Ao submetê-los, a Germania estaria.

Pela primeira vez na história, unificada, e nesta campanha ele teve aliados certamente incomuns: ao atravessar a Saxônia com tropas francas, o exército imperial recebeu também contingentes saxões entre as suas tropas, incluindo o próprio Widukind.

Assim, com velhos inimigos marchando lado-a-lado, a tropa franco-saxônica adentrou aonde hoje fica a Prússia Ocidental – apesar de não haver muitos detalhes sobre a campanha, os eslavos se submeteram no mesmo ano, e o seu líder, Witzin, pediu o cessar-fogo, e os termos do tratado de paz subsequente deu uma certa autonomia aos Veletis, transformando as suas terras em um estado vassalo, além de exigir vários reféns e a garantia de que quaisquer missionários cristãos naquelas terras não seriam molestados*.Incrivelmente, nos anos subsequentes, os Veletis provaram ser vassalos leais, permanecendo do lado dos francos até mesmo quando eles poderiam facilmente ter os traído.

Após a submissão dos Veleti, com o processo de unificação finalmente terminado, o os francos e saxões continuaram a marcha para o leste, saqueando as terras ao longo do Báltico e voltando numa marcha triunfal ao longo do Reno com bastante saque e poucas baixas.Aproveitando uma vitória fácil após anos de guerras sangrentas contra os saxões, tornada ainda mais doce por ter sido obtida com a ajuda deles, a moral dos francos subiu, e Carlos Magno se preparou para libertar a Bavária dos avaros.

Guerras Avaras – Parte I

Em 788, os francos finalmente puderam se voltar para o sul contra os avaros que haviam atacado a Bavária.Deslocando-se para o sul, o rei dos francos liderou o seu exército Danúbio abaixo até a terra adotada dos cavaleiros das estepes, deixando uma trilha flamejante por ela.Apesar de parte do campo e algumas cidades terem sido saqueados, a vitória esteve MUITO longe de ser completa.

As poucas cidades avaras, na verdade centros comerciais muito abastados, ficavam dentro de anéis fortificados de pedras difíceis de serem tomados, e os próprios avaros tendiam a ser seminômades, vivendo da estepe e sendo cavaleiros habilidosos, demonstrando grande destreza com o arco e o sabre, atacando as colunas e linhas de suprimentos do inimigo em marcha.

Os francos já tinham uma certa ideia de como contrapôr tal tática: eles haviam aprendido com os seus erros ao enfrentar arqueiros montados e cavalaria ligeira árabe nos tempos de Carlos Martel, coisa que muitos dos seus inimigos não souberam fazer, e os cavaleiros francos também eram equipados com cavalos ligeiros e azagaias.

A campanha foi sangrenta e se arrastou por anos, com milhares de mortes, sendo interrompida em 792 quando os saxões surpreendentemente se rebelaram outra vez, desta vez incitados pelo rei da Nordalbingia, o último reino saxão independente, que ficava no pé da Jutlândia.Porém, a revolta não teve grande aderência, e foi facilmente derrubada, com a própria Nordalbingia sendo conquistada.

Os avaros aproveitaram a brecha para repor as suas perdas por um tempo, mas apesar de a espera não servir de nada, a reação dos francos ao saber que eles teriam que enfrentar os avaros novamente foi violenta: muitos protestaram, e houve até mesmo um complô para matar o rei. Carlos Magno, porém descobriu do complô, e puniu os membros dele: o duque Tassílio III da Bavária, tendo sido um suspeito de envolvimento e tendo uma lealdade questionável desde que abandonara o exército na campanha da Aquitânia, chegou muito perto de perder a cabeça.

Carlos Magno já estava cansado de derramamento de sangue e execuções, e decidiu poupá-lo, embora ele tenha deposto a dinastia Agilolfing do ducado. A traição mais dolorosa com certeza foi a do seu primogênito e bastardo Pepino, o Corcunda, que nutria um certo ressentimento do pai desde que fora gradualmente afastado da vida na corte após Luís, seu meio-irmão legítimo, ter crescido. Devastado com a traição, mas não disposto a matar o seu próprio filho, ele o condenou a uma espécie de prisão perpétua: virar monge e viver em isolamento.

Guerras Avaras – Parte II

Com a conspiração desbaratada, a guerra com os ávaros foi retomada, embora a moral estivesse baixa.A guerra continuou por mais cinco anos, e no meio tempo a segunda esposa do rei, provavelmente a única que ele realmente amou, Hildegard, morreu de causas desconhecidas com meros 25 anos.

O Grande Anel dos Avaros, a capital e principal centro comercial do inimigo, foi saqueada duas vezes, rendendo uma imensa riqueza, assim como outros centros comerciais, os ataques avaros cessaram com a rendição, e o Canato Avaro foi transformado num estado tributário, com um chefe nativo batizado, Abraão, sendo escolhido como Khan. A grande riqueza coletada foi distribuída entre os soldados e vassalos do reino franco, e chegou até mesmo a cortes estrangeiras, incluindo a do Reino da Mércia na Inglaterra.

Porém, a paz não duraria: no ano 800, o Khan Krum o Terrível da Bulgária atacou as terras avaras, e 3 anos depois as guerras entre os francos e avaros recomeçaram.Desta vez, o resultado veio rapidamente: um gigantesco exercito franco marchou Panônia adentro e submeteu definitivamente os avaros, que foram incorporados de vez ao território franco.

Porém, eles puderam manter o seu próprio Khan e algumas de suas próprias leis, e Carlos Magno foi mais leniente em relação a leis “federais” do que fora antes com os saxões, evitando a pena capital, e também não impondo a conversão aos avaros tengriistas, com tais termos tendo sido promulgados em Regensburg em Novembro do mesmo ano, aonde os chefes avaros juraram-lhe lealdade formalmente.

Depois disso o relacionamento entre os francos e os avaros deixou de ser um de hostilidade, e sob pedido do Khan Abraão, até foi permitido que alguns avaros emigrassem para a Áustria, se estabelecendo no sudeste de Viena.*

Com a guerra se conseguiu amplos saques, a submissão de um dos povos mais perigosos e problemáticos da Europa e a ingressão como potência na geopolítica da Europa Central, porém o custo fora alto: milhares, ou até milhões, morreram na guerra em ambos os lados, e o efeito na demografia avara foi devastador, com os próprios sendo varridos do mapa meramente um século depois pelos recém-chegados magyars, que formariam a Hungria.

O mesmo pode ser visto na expressão que se criou no pós-guerra: “Sumido como um avaro.”

*Tais termos gentis dados para um povo completamente derrotado realmente formam um contraste gritante com a submissão dos saxões, e parecem ter se tornado a regra após a conversão de Widukind. Pessoalmente, o autor acredita que a brutalidade das Guerras Saxônicas foi tamanha que acabou marcando até mesmo o próprio rei dos francos, que veio a ser assombrado pelo que fez na sua fúria cega após Roncesvalles, e que tais termos foram uma espécie de modo de redimir os seus pecados.

Pós-guerra e apogeu Carolíngio

Após o final das guerras contra os avaros, os francos foram deixados numa posição de domínio inquestionável sobre a Europa Central e de superpotência européia.

Com o final das grandes guerras, as reformas administrativas que o rei planejava foram finalmente implantadas, começando ainda durante a guerra: a capital foi mudada para o norte, para a cidade romana de Aquisgrana, chamada pelos francos de Aachen, nas margens do Reno e na fronteira ocidental da Germania.Famosa pelas suas fontes medicinais e construções romanas, a cidade foi ampliada e floresceu durante o seu reinado, com várias escolas, catedra e um novo palácio sendo fundados.

Além de se dedicar à economia, com ênfase no comércio, e em instituir uma hierarquia feudal bem-definida, medidas realmente revolucionárias foram adotadas: fiscais foram despachados para as cortes de nobres para impedir que eles abusassem do poder ou conspirassem, e através de um tratado com a Igreja e com o clero, várias escolas foram abertas: algumas em igrejas e monastérios, outras em construções novas.

Com padres e monges servindo de professores de várias matérias, incluindo, mas não se restringindo, às Sete Artes Liberais, o ensino carolíngio floresceu, embora o projeto de aplicá-lo em larga escala tenha morrido com Carlos Magno: nas novas escolas os filhos dos nobres e noviços eram treinados para exercer as suas funções, mas até mesmo os aldeões podiam acessa-las: crianças plebeias estudavam ao lado de crianças da nobreza, e até mesmo mulheres frequentavam tais escolas.

Acima de tudo o conhecimento floresceu: sendo um mecenas da filosofia, teologia e ciências e se interessando pessoalmente por todas essas disciplinas, Carlos Magno patrocinou vários intelectuais, incluindo o famoso monge inglês Alcuíno de York, seu amigo, conselheiro e tutor dos seus filhos. Surpreendentemente para um rei guerreiro germânico que só fora alfabetizado nos seus 40 anos, ele chegou até mesmo a debater filosofia e teologia com o papa Adriano, de quem era amigo e a escrever um tratado de alquimia.

Numa época em que a Britânia era uma confusão de pequenos reinos, o leste Europeu era uma coletânea de tribos eslavas caóticas, e a Ibéria estava de joelhos perante os berberes, com os nativos se refugiando nos Pirineus, os francos e o seu rei alçaram a Germânia, a Gália e o Norte da Itália a um esplendor não visto desde os tempos romanos, rivalizando com a própria Bizâncio.

Ao longo desta fase, chamada de Renascença Carolíngia, é que o rei dos francos teria a aparência mais comumente difundida, na sua meia-idade: de um homem com uma barba comprida e grisalha, mas ainda alto e ereto, com um ar régio e sábio, ao invés do jovem general que ele fora na juventude.

Fontes e Créditos Carlos Magno: Texto utilizadocom a gentileza da autorização da página no Facebook Repensando a Idade Média (facebook.com/RepensandoMedievo)O melhor conteúdo sobre história medieval.

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